Foram dias de nenhum sol. O Cansaço, senhor de si próprio e contra a minha própria vontade, instalou-se confortavelmente na poltrona [o meu coração] de onde eu determinava todas as minhas vontades. Dias frios de nevoeiro espesso, seus súbditos amargurados, invadiram a minha vida e nomearam-se soberanos de todos os meus relógios e calendários , ameaçaram eles “para sempre”.
E de repente tudo estava diferente. As pessoas que eu costumava amar passaram a existir como fortalezas desabitadas, esquecidas de si próprias, mais motivadas em destruir tudo e todos do que em construir-se a si mesmas.
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Esqueço-as e esqueço-me com elas.
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Os meus dias passam, repetidamente repetidos por imposição dos senhores do reino dentro de mim que já não sou eu, e eu choro por dentro. Uma tempestade cerrada e calada de lágrimas. Um choro "estúpido e terno", exausto de mim. Farta de ser eu. Farta de ser eu neste rosto, nestas roupas, mesmo as mais íntimas, neste corpo que não encontra alma, neste coração cansado de bater sem pensar.
Acordar e não te querer ver. Por medo. Medo. Vivemos de medos. Encolher-me em mim mesma, desejar com força voltar a ser criança e a não ter medo de nada se não da escuridão. A escuridão.
Dá-me todo o tempo do mundo.
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Eu gostava tanto de te amar, mas não consigo. Quando me tomavas nos teus braços, ia já a noite escura, tu querias acreditar que o meu coração te pertencia. Mas meu amor... Meu amor, ou lá quem és, o meu amor não pode pertencer a ninguém, porque a minha maneira de amar é estéril e egoísta e absurda.
Queres-te mais forte que os meus demónios, que devagar me foram roubando tudo. Mas digo-te eu: não te desperdices a tentar salvar quem tem cordas ásperas a estrangular-lhe a alma... "para sempre".