sexta-feira, 15 de junho de 2007

Once I wanted to be the greatest,
No wind or waterfall could stall me...
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" Eu, mais ninguém. Quer dizer, só fico eu. A interromper-me. Por não poder continuar a ser como sou sem me lembrar que nem sempre fui assim. Já fui como os outros, quando eram o que já não são, ou que não são o que acabarão por ser.
Sou mais que uma testemunha inocente da minha vida, apanhada a fugir do local do crime e obrigada a depor e a sujeitar-me ao julgamento dos outros.
Também já fui autora. Actriz. Fiz a minha vida e, entrei nela, durante uns tempos...
Já tive vontade. Já tive importância. Já vivi fora do mundo. Já aqui estive sem ser à espera. Já fui eu quem aparecia, quem obrigava as coisas a acontecer, quem se opunha, quem me convencia, quem lutava pelas coisas em que acreditava, quem não descansava enquanto não tivesse o que queria.
Já não é assim que sou. O que fui já ninguém mo tira. Antes de ser pessoa, fui mulher. E, era ser mulher, que na altura me apetecia.
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Um dia atiro a alma ao ar e serei friamente feliz."
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miguel esteves cardoso, Cemitério de Raparigas

8 comentários:

aframboesa disse...

"O que fui já ninguém mo tira."

Gosto deste jovem senhor.

Bisou *

aframboesa disse...

Ah, et la musique. . . bem, a madame tem sempre bom gosto :) *

Aestranha disse...

Texto fantástico acompanhado por uma música não menos fantástica... Adorei e identifiquei-me... Sentimos falta do que já fomos ou é só dificuldade em perceber o que somos, agora?


Beijos

Lizzie disse...

Linda framboesa... Onde estás tu metida quando visito a "tua" terra?!
Também gosto deste jovem senhor. E às vezes até acho que ele me conheçe..."Ou então eu sou igual aos outros"... *

Estranha... não sei bem, mas acho que é um bocadinho de cada...
Ainda bem que gostaste. *

Maria Ostra disse...

Ás vezes estamos cansadas...

Anónimo disse...

há momentos em que desistumos de ser nós para passarmos a ser pessoas comuns, adaptadas à vida comum.
é o mais fácil... e é a melhor maneira de alcançar a felicidade. uma fria e falsa felicidade, claro. sem emoções reais, só sensações e quotidiano.
resta a memória. e, às vezes, a esperança num renascimento. por mais improvável que pareça, é sempre possível. até à morte.

aframboesa disse...

Lizzie, tão perto e tão longe. Os dias são assim, de desencontros, plantados num grande cemitério de raparigas.

Bisou *

Lizzie disse...

Sim, às vezes estamos [só] cansadas... Era bom que o mundo inteiro parasse para recuperarmos o fôlego.

A questão, brisa, não é optarmos por desistir de nós... às vezes nem nos apercebemos e estamos transformados em alguém que nunca quisemos ser. E como eu escrevi ainda há pouco aqui em baixo "Nunca desistir".

Frambú, como tens razão...

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