Saio, quando já tenho vontade de ficar, e arrasto comigo a mala carregada de promessas em migalhas e vazios inúteis. Perguntas-me, com os olhos, o que levo que tanto me possa pesar e eu, mais baixinho ainda, respondo: "Levo todos os sóis e todos os sonhos para não mais voltar."
Desço as escadas, cada passo um degrau, e encontro a minha cidade. Coimbra, bonita no bater de todas as horas, de todos os pulsos, de todos os corações. Coimbra do mesmo dia de há cinco anos atrás, olhada com os mesmos olhos rasgados (os meus) de entusiasmo que já confunde a saudade de um passado que afinal não foi assim há tanto tempo. Coimbra, do Papa morto que vive com os braços voltados para o lado errado. Coimbra, dos fins-de-semana parados. Coimbra, sempre demasiado grande para encontrarmos as pessoas que não queremos perder e demasiado pequena para as podermos esquecer. Coimbra dos meus segredos.
Respiro o mesmo ar desse dia (e tudo à minha volta respira a minha paz descansada de despedida perfeita) e atravesso a avenida das árvores catalogadas a ouvir uma música que estará sempre presa a ti.
Quando entro no autocarro bate-me com força de tempestade a sensação de não saber para onde vou, de ter entrado no autocarro errado, mas na tarde azul demais sorrio com toda a força que tenho e esqueço-te. Não volto a ti. Mesmo que esta estrada tivesse dois sentidos, que não tem, não volto a ti. Porque nos nossos relógios há já muito que não batem as mesmas horas.
* " Hated to see you sad when I left
There's no good in that but the good part was
That I came out at all 'cause I don't venture out
Into the lives of the new
I want you to come along for the ride
How long will you stay for your whole life
You just know you should
Can you tell me can you tell me can you tell
if there's something better
'Cause you know there always is
There always is."
Cat Power
15 comentários:
As partidas nunca foram faceis...
Esse amor é daqueles que não se esquece. E o esquecimento por vezes não passa de uma fugaz ilusão;queres-te livrar de tudo, apagar momentos, deitar fora sensações mas não consegues. Já dizia o outro que o que nos move é o coração...
Um beijo.
E às vezes leva-nos (o coração) por caminhos errados. Há amores que fazem mal, que por mais amor que seja não é o amor certo. E mesmo assim não se esquecem, é verdade, mas por mais que aperte virar as costas (e por mais que nos vá magoar a saudade) às vezes é mais sábio não cumprir as vontades do coração (e um dia acaba por passar). Como diz aquela canção :" Heart is the engine of body but brain is the engine of life."
Bisou Pru*
«Coimbra, sempre demasiado grande para encontrarmos as pessoas que não queremos perder, e demasiado pequena para as podermos esquecer.»
muito muito muito bom!estás de parabéns plo texto em geral
bato palmas e tiro o chapéu por esta frase em particular.
:) *
pronto,pronto...também não te estiques. =)
Epá, já não se podem agradecer os elogios que é logo "não te estiques"? lol... Para a próxima(se houver próxima) não digo nada...Bisou
Nada se esquece, mas o tempo tudo transforma. E não há amor certo. Só amor e mais nada.
Brisa,
Amor nunca é amor sozinho. Isso do "amor e mais nada" se algum dia foi verdade, hoje é só um mito. Mas que é um ideal bonito lá isso é.
Na questão do tempo concordo, e muito. Já a minha avó devia dizer que o tempo cura tudo, e nem há melhor conselheiro (gosto muito da sabedoria popular, confesso). Na minha sabedoria, que não é muita mas lá vai servindo para me auto-governar, não há deuses, nem sorte, nem destinos...há o Tempo. Ele manda no mundo grande, e nos nossos pequeninos.
Por falar em tempo, não é vento mas é Brisa... Hum, seria mais bonito se tivesse usado o seu verdadeiro nome, até porque já é muito "tempo" junto. De qualquer forma, obrigada pela visita e pelo comentário, e volte se desejar.
Muito bom... o azul de Coimbra é retratado na beleza da ambiguidade de um Papa de Costas voltadas... gostei.
ps- Têm (parece-me melhor tem)
Para que quer saber o meu nome? Nós não somos os nomes que temos, esses nomes tão colados à nossa tão limitada existência humana... Eu preferia ser brisa, sim. Pelo menos, poderia voar e meter-me por todos os lados sem incomodar (ao contrário do vento e do tempo, que incomodam e muito).
E voltarei sempre... como a brisa.
#nbs#,
Obrigada pelo comentário e pela correcção (são ambos sempre bem vindos). Não me tinha apercebido do erro, e já corrigi. :)
Brisa,
Gosto muito de uma frase de José Luís Peixoto que diz:"eu não quero apenas ter este nome, quero ser dono dele." Ao contrário de si não penso que o nosso nome limita a nossa existência, acho antes que a engrandece, que é a primeira característica (antes da cor dos olhos, da maneira de estar na vida e de todo o resto) que nos torna únicos e nos identifica. Sim, o meu nome está colado a mim, e eu orgulho-me disso.
Ao saber o teu nome saberia que estava a falar contigo, e não com aquilo que tu desejas ser. Agora se isso abana os teus pilares, não nos incomodemos, que fique brisa. Antes brisa que anónimo (esse sim incomoda, e só espero que não sejam o mesmo). Sim, volta sempre.
Bisou*
Não sou anónima, cara Lizzie, tenho nome e até gosto dele. Não o uso por razões pessoais, não porque abale os meus pilares...
Obviamente que não me espanta que tenha nome, espantaria-me era se não tivesse. A única razão porque lho perguntei foi para saber se nos conhecemos ou não pessoalmente, todo o resto (se tem, se gosta, ou se a limita) pouco me podia interessar.
Ps: Pode tratar-me por "tu", que eu não tenho status nem para "você", nem para grandes formalidades (delas até gosto pouco).
Não nos conhecemos pessoalmente, de todo. Nem sequer de vista. Nem sei de onde és... Mas gosto dos teus textos, só.
Sê bem vinda então, e que bons ventos te tragam novamente.
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