quinta-feira, 4 de outubro de 2007

um-dó-li-tá



espreito-me de soslaio. espreito-me com os olhos que já não tinha desde que a vida me começou a acontecer.
um dia disseram-me para nunca deixar de ser criança e eu deixei. talvez por isso me lembre de mim tantas e tantas vezes. sou a pessoa de quem mais tenho saudades. aquela estranha de totós, uma estranha destemida em cima de um triciclo, sem medo dos papões, dos bichos maus, dos outros, a gritar "um-dó-li-tá quem está livre livre está!!!".
e eu pergunto-me "estou livre?" .
uma estranha cheia de alegria a fugir das mãos leves da mãe e a esconder-se na casota com o cão quando "fizeste alguma coisa de mal elisabete!". fiz. farei sempre. de errar não me canso, nem aprendo, mas hoje faltam-me as mãos da minha mãe [a minha mãe acredita que eu já sou grande] e aquele pedaço de cimento em forma de casa pequenina há muito que está vazio.
diz-me a minha mãe que foram muitas as noites sem dormir para me encontrar o nome perfeito. diz-me que no dia em que eu nasci teve medo que em mim só o meu nome fosse perfeito [o médico olhou-a nos olhos e disse-lhe "com a idade que você já tem é provável que a criança não nasça de saúde"]. eu nasci de saúde. o meu pai pegou em mim ao colo, chorou, e a minha vida começou.
hoje apetece-me rir. rir de todas as formas, ser de todas as cores. hoje apeteço-me de todas as maneiras, como se tudo o que passou tivesse passado há já muito tempo. como se eu fosse outra vez uma criança num corpo de mulher. hoje vou gritar "um-dó-li-tá quem está livre livre está!!estás?"

ESTOU.
só me falta o triciclo.

4 comentários:

Maria Ostra disse...

Isso, grita que eu ajudo!
As vezes, penso que também já perdi toda a inocência... As vezes, é pena... porque é bom deslumbrarmo-nos...
(deve ter sido por isso que fui ver o Stardust! :D )

Aestranha disse...

Não pude deixar de me identificar com o que escreveste! Também sinto muitas saiudades de mim nessa idade e nessa liberdade...

Muitos beijos

Aestranha disse...

Quanto ao triciclo... Isso arranja-se! ;)


*

aframboesa disse...

:)

sabe tão bem recordar. pode doer, pode sorrir-nos. mas recordar aqueles tenros anos em que fomos tão nus, tão de nós. . . sabe tão bem.

a liberdade. . .

bisou *